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Prós e Contras da Fusão Sadia-Perdigão

A formação de megacorporações é ou não benéfica ao consumidor e ao mercado?

Esta é uma questão controversa. É uma discussão que permite saber como a sociedade reage a processos que não tem um controle completo.

É meus amigos, muito prazer, sou a globalização.

É meus amigos, muito prazer, sou a globalização.

Aqui no Brasil, já vivenciamos a criação da AmBev, a fusão de Kolynos e Colgate, Nestlé e Garoto e em maio de 2009 a fusão entre Perdigão e Sadia, resultando na Brasil Foods. Podemos analisar esta questão por diversos ângulos:

Do ângulo da empresa, muitas destas antes em crise e a beira da falência, a fusão passa a ser a melhor alternativa de sobrevivência num ambiente concorrencial. Estas se fortalecem, melhoram sua rentabilidade e se tornam mais competitivas para brigar com as corporações internacionais (a internacionalização é demonstrada no nome Brasil Foods, escolhido para designar a fusão entre Perdigão-Sadia). Existe a possibilidade de se diminuírem os custos com publicidade, distribuição e logística. Além de um maior investimento em pesquisa, maiores inovações, modernização, tornando o ramo de atuação da empresa mais dinâmico. Porém estes gastos com desenvolvimento do produto, muitas vezes não chegam ao consumidor, não impactando no preço final (os preços ao invés de caírem, podem até aumentar). Com isto, o faturamento destas megacorporações pode dobrar depois de alguns anos, como ocorreu com a fusão de Nestlé-Garoto. Com este aumento de preços, a participação no mercado que no início da fusão era quase que um monopólio, ao longo dos anos tende a diminuir consideravelmente (o consumidor não é totalmente burro), um exemplo é Kolynos-Colgate, que perdeu 14% do mercado em 8 anos.

Do ângulo do governo, e ai incluí-se a questão da economia do país, o número de empregos oferecidos por estas megacorporações além de se manter pode também aumentar, mais que dobrar em alguns casos, como da fusão entre Brahma-Antártica. É excelente para o país, pois este trabalhador estará recebendo salário e consumindo em diversos setores, movimentando a economia como um todo. Com a internacionalização da empresa, existe inclusive a abertura do mercado de trabalho para o brasileiro em outros países. Esta mesma internacionalização faz com que além do nome da empresa, o nome do Brasil seja levado ao exterior. Passamos a ser o país do futebol, do samba e de empresas lucrativas e competitivas. Com a fusão de empresas nacionais, afastamos o risco do capital estrangeiro adentrar em nosso país, ocasionando evasão de divisas. A arrecadação de impostos também aumenta, chegando a quadruplicar como ocorreu com a fusão entre Nestlé-Garoto e Brahma-Antártica. Estes impostos como todos nós sabemos, são revertidos para o nosso bem estar bem estar dos políticos.

Tem que rir pra não chorar.

Tem que rir pra não chorar.

Do ângulo do consumidor, a realidade é outra. Estas fusões significam a união de antigos rivais. É uma empresa a menos no mercado, diminuindo nossa liberdade de escolha. Este aumento de domínio do mercado, trás efeitos negativos para os consumidores e para os concorrentes menores. Antes, duas grandes empresas brigavam para oferecer o melhor produto, com o preço mais baixo para você. Mas agora estas empresas se uniram. Não existe mais a guerra para atrair consumidores, roubar consumidores da concorrência. O preço pode inclusive aumentar, já que não existirá mais a concorrente para forçar a queda nos preços muitas vezes abusivos. Sem contar a pressão realizada por estas megacorporações a fornecedores e ao seu Zé da mercearia, para evitar o aumento da concorrência.

 

aol-time-warnerAbro aqui um parêntese, pois existe também o outro lado da moeda, as fusões que não vingaram. Um exemplo que não deu certo foi a fusão das gigantes Time Warner e AOL em 2001, considerado um dos maiores da história, envolvendo US$ 124 bilhões. Recentemente, o negócio acabou sendo desfeito, pois nunca consumou a expectativa sobre sua viabilidade. É uma ironia, mas o que muitas megacorporações conseguiriam/melhoraram com a fusão, estas passarão a buscar a partir de agora seguindo com suas próprias pernas, separadas. O desmembramento vai oferecer às duas empresas uma maior flexibilidade estratégica e operacional.

Pois bem. Avaliando estes três ângulos (empresa, governo e consumidor), percebe-se que os maiores interessados e privilegiados são as próprias empresas e o governo. Para nós consumidores, resta esperar o julgamento dos órgãos que analisam estes casos de concorrência e abuso de poder econômico e nos representam. Um deles é o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que deve fazer um trabalho técnico e resistente a pressões políticas, já que é natural, na economia da concorrência e dos mercados, que haja interesses políticos por trás destas fusões.

A resposta para a pergunta inicial está longe de merecer um consenso de empresas, economistas e órgãos de defesa do consumidor. O que se espera com a fusão e o surgimento destas megacorporações, como Brahma-Antártica, Kolynos-Colgate e mais recentemente Sadia-Perdigão é a modernização destas empresas brasileiras, tornando-as mais competitivas no mercado externo, o aumento na arrecadação de impostos, a manutenção dos postos de trabalho, a diversidade e principalmente a qualidade de produtos, aliada a eficiência dos serviços prestados. Mas para nós consumidores, isso de nada adianta, se os preços praticados por estas megacorporações não sejam acessíveis e justos.

 

Fontes: The Economist, Kolynos Brasil, Nestlé, AmBev, ACNielsen.

 

Músicas ouvidas durante o postThe Divine Comedy – Something For The Weekend; Becoming More Like Alfie; Middle Class Heroes; In & Out of Paris & London; Charge; Songs of Love; Frog Princess; A Woman of The World; Through a Long & Sleepless Night; Casanova; The Dogs and Horses; Timestretched; Bad Ambassador; Perfect Love Song; Note to Self; Lost Property; Eye of The Needle; Love What You Do; Dumb It Down; Mastermind; Regeneration; The Beauty Regime; There is a Light That Never Goes Out (The Smiths cover).  (Destaque para todas).


A Probabilidade do Improvável

Economia é o único campo onde duas pessoas podem ganhar o prêmio Nobel, dizendo coisas completamente opostas.

Pode ser piada, mas é realidade. O economista age no 50%, ou seja, as declarações, previsões, tem metade das chances de realmente ocorrer, ou não. A verdade é que praticamente todos seguem a mesma corrente, tendo um comportamento idêntico, repetitivo, é uma plagiação absurda de idéias. No final perde-se toda a essência de onde se partiu a idéia inicial, tornando as previsões e diagnósticos pouco divergentes. Economista considerado bom, é aquele que erra menos do que acerta. Não existe o 100% de acerto.

Na atual crise financeira por exemplo, parece que todos perderam com ela. Somente são noticiados casos de bancos centenários que foram a falência, empresas com demissões em massa e trabalhadores que perderam seus empregos. Mesmo aqueles que eram pagos para analisar o mercado, e proferir previsões “nostradâmicas” sobre o futuro da economia, erraram. Todos então devem estar se perguntando, onde estavam todos estes incolumes especialistas, analistas, os “sabe tudo” que falam com uma arrogância tremenda, recebendo fortunas para aumentar o lucro dos acionistas das grandes corporações, ou proferindo entrevistas em TV´s e jornais, orientando a população que não entende nada de mercado financeiro?

 

Seria melhor consultar uma bola de cristal

Seria melhor consultar uma bola de cristal

 

Papai Noel não existe. Almoço grátis não existe. Crises eternas também não existem. A crise de 1930, ou a Segunda Guerra Mundial provam muito bem esta tese. Depois da miséria vem a bonança, mas depois da bonança vem a miséria novamente e o ciclo sem mantém ao longo dos anos. Perdemos de um lado, ganhamos de outro. Uns perdem mais, outros tem mais motivos para sorrir, quem pode mais chora menos.

Lucro passado, condições favoráveis no passado, não significam lucros futuros, condições favoráveis no futuro. Da mesma forma que não existem previsões infalíveis. Da mesma forma também se a avaliação for superficial, se a análise ocorrer somente com o previsível, podemos ser pegos de surpresa, por mais improvável que possa parecer, e não estaremos assim preparados para o que pode ocorrer. Se alguma coisa pode dar errado, isso acontecerá no momento mais inoportuno. Os especialistas já deveriam conhecer a tão famosa lei de Murphy, tendo precaução e sendo pró-ativos.

 

Não tem como fugir. A lei de Murphy te pega

Não tem como fugir. A lei de Murphy te pega

 

Se você quer um diagnóstico mais preciso com relação a uma enfermidade, sugiro consultar mais de um médico. Na economia isto também é válido. Pois o que está em nossas vistas, o aparente, de fácil visualização, pode induzir ao erro. É preciso um melhor acompanhamento da conjuntura econômica, com análises mais profundas, para que as previsões sejam calcadas em argumentos mais sólidos. O debate com opiniões diversas e bagagem de conhecimento além de válido, é extremamente necessário. Deve haver a troca de idéias, e principalmente coragem para nadar contra a corrente, pois já dizia Lippman: “Quando todos pensam igual, ninguém está pensando”. 

 

 

Músicas ouvidas durante o postMorrissey – Everyday is Like Sunday; Haidresser on Fire; Irish Blood English Heart; Jack The Ripper; Suedehead; You´re The One For Me; Certain People I Know;  Bigmouth Strikes Again; First Of The Gang To Die; Let Me Kiss You; There is a Light That Never Goes Out; The More You Ignore Me, The Closer I Get; Alma Matters; Redondo Beach; All You Need is Me; The Last of The Famous International Playboys; I´m Throwing My Arms Around Paris; Boxers; Interesting Drug; Sunny; We Hate It When Our Friends Become Successful; America is Not The World; Half a Person. (Destaque para todas).