Os piratas da atualidade não tem uma perna de pau, não usam espadas e também não buscam saquear navios com baus de ouro. Seu ramo de atuação está mais moderno. Os piratas contemporâneos agora trabalham na distribuição barata ou gratuíta de filmes, músicas e livros. Estes piratas “batem de frente” com os grandes da indústria do entretenimento, utilizando a informática e a internet como arma.
A pirataria fez com que a indústria da música fosse reinventada. Hoje, dificilmente bandas vão ganhar os discos de ouro que eram entregues nos programas de auditório, pois o disco físico não vende como antigamente. Aliás este “antigamente é questão de alguns poucos anos atrás”. Lembro que quando comprava um CD, mesmo que não gostasse de todas as faixas contidas nele, passava a aprender a gostar de tanto ouvir. Era um prazer enorme ter o contato com o encarte, com as fotos, as letras. Hoje a música está mais descartável. É como simpatizar com uma pessoa logo no primeiro contato. Ou você gosta, ou vai pra lixeira.
A questão dos direitos autorais é bastante delicada. Com o avanço da tecnologia, hoje todos possuem câmeras digitais, ipods, pen drives. Transmitir informação através da internet está cada dia mais fácil. Com a globalização, temos acesso rápido a novidades e nunca estamos satisfeitos, queremos sempre mais e mais. Então, muitas coisas que são fotografadas, gravadas e armazenadas podem ser consideradas violação de direitos autorais. E quem se utiliza destas ferramentas são principalmente os mais jovens que tem uma outra visão sobre o mundo, que tem vontade de mudar, de ver e fazer acontecer tudo de uma forma diferente.
A pirataria que inicialmente foi vista (e ainda o é) como prejudicial, até mesmo por aqueles que se utilizam dela (atire uma pedra quem nunca viu, ouviu, ou leu algo pirata), veio para mudar as regras do mundo capitalista. Com ela as empresas são forçadas a se reinventar. Novas formas de distribuição e consumo de informação devem ser propostas, fazendo com que o consumidor final (todos nós) esteja mais satisfeito. Mesmo não gastando na compra de CD´s, a pessoa não deixa de gostar de música. O lucro para seu ídolo vem de outra forma, através de compra de camisetas e shows.
Um exemplo antigo relacionado a pirataria que pode ilustrar bem o que acontece na atualidade, foi a invenção do fonógrafo em 1877 por Thomas Edison. Enquanto trabalhava neste projeto, reproduzia em seu invento “Mary Tinha um Carneirinho”. Os músicos que ganhavam dinheiro tocando ao vivo esta música, acusaram-no de violação de direitos autorais e imaginaram que com o fonógrafo, os músicos ficariam sem trabalho, acabando até mesmo com a música em si. É o que ocorre hoje com os downloads. Assim, foi inventado o sistema de pagamento de royalties. Thomas Edison inventou também o cinetógrafo (máquina de filmar), o cinetoscópio (caixa com imagens vistas em seu interior) e o vitascópio (projetor de filmes em tela). Edison, exigiu o pagamento de uma licença para quem quisesse utilizar seus inventos. Assim, alguns piratas cineastas da época, mudaram-se para continuar produzindo seus filmes, sem ter que pagar a licença. Através disto, os primeiros estúdios de Hollywood foram criados, como a FOX films.
Convenhamos, nada tira o prazer de ter um livro impresso em mãos, poder ler deitado numa rede, ou estar sentado na areia, hora lendo, hora observando o mar. Nada tira o prazer de estar numa sala de cinema, para ver aquele filme de ação numa tela gigante. Ou aquela comédia com 300 pessoas rindo com você. Sem contar sentar na última poltrona com a namorada, no escurinho do cinema…
A empresa contemporânea, para ser competitiva precisa aprender a se reinventar. Pesquisar o mercado, entender o seu consumidor, antecipar tendências. A pirataria contemporânea é um caminho sem volta.
Músicas ouvidas durante o post: Nei Lisboa – Translucidação; Côte D’Azur; Bela; Confissão; Clichê; Mundos Seus; Tropeço; A Verdade Não Me Ilude; The Importance Of Being Idle (Oasis cover); Muito. (Destaque para todas).